Friedrich Nietzsche Wikipdia, a enciclopdia livre

Posted: September 30, 2015 at 6:46 am


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Friedrich Wilhelm Nietzsche (Rcken, 15 de outubro de 1844 Weimar, 25 de agosto de 1900) foi um fillogo, filsofo, crtico cultural, poeta e compositor alemo do sculo XIX.[1] Ele escreveu vrios textos crticos sobre a religio, a moral, a cultura contempornea, filosofia e cincia, exibindo uma predileo por metfora, ironia e aforismo.

As ideias-chave de Nietzsche incluam a dicotomia apolneo/dionisaca, o perspectivismo, a vontade de poder, a "morte de Deus", o bermensch (Alm-Homem) e eterno retorno. Sua filosofia central a ideia de "afirmao da vida", que envolve questionamento de qualquer doutrina que drene uma expansiva de energias, porm socialmente predominantes essas ideias poderiam ser.[2] Seu questionamento radical do valor e da objetividade da verdade tem sido o foco de extenso comentrio e sua influncia continua a ser substancial, especialmente na tradio filosfica continental compreendendo existencialismo, ps-modernismo e ps-estruturalismo. Suas ideias de superao individual e transcendncia alm da estrutura e contexto tiveram um impacto profundo sobre pensadores do final do sculo XX e incio do sculo XXI, que usaram estes conceitos como pontos de partida para o desenvolvimento de suas filosofias.[3][4] Mais recentemente, as reflexes de Nietzsche foram recebidas em vrias abordagens filosficas que se movem alm do humanismo, por exemplo, o transumanismo.

Nietzsche comeou sua carreira como fillogo clssico um estudioso da crtica textual grega e romana antes de se voltar para a filosofia. Em 1869, aos vinte e quatro anos, ele foi nomeado para a cadeira de Filologia Clssica na Universidade de Basileia, a pessoa mais jovem a ter alcanado esta posio.[5] Em 1889, com quarenta e quatro anos de idade, ele sofreu um colapso e uma perda completa de suas faculdades mentais. A composio foi posteriormente atribuda a paresia geral atpica devido a sfilis terciria, mas este diagnstico vem entrado em questo.[6] Nietzsche viveu seus ltimos anos sob os cuidados de sua me at a morte dela em 1897, depois ele caiu sob os cuidados de sua irm, Elisabeth Frster-Nietzsche at a sua morte em 1900.

Como sua cuidadora, sua irm assumiu o papel de curadora e editora de seus manuscritos. Frster-Nietzsche era casada com um proeminente nacionalista e antissemita alemo, Bernhard Frster, e retrabalhou escritos inditos de Nietzsche para se adequar a ideologia de seu marido, muitas vezes de maneiras contrrias s suas opinies expressas, que estavam fortemente e explicitamente opostas ao anti-semitismo e nacionalismo. Atravs de edies de Frster-Nietzsche, o nome de Friedrich tornou-se associado com o militarismo alemo e o nazismo, mas estudiosos posteriores do sculo XX vm tentando neutralizar esse equvoco de suas ideias.

Friedrich Wilhelm Nietzsche ( /nit/[7] ou /niti/[8] ) nasceu numa famlia luterana, em 15 de outubro de 1844. Filho de Karl Ludwig, seus dois avs eram pastores protestantes.[9] O prprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor: entretanto, rejeitou a crena religiosa durante sua adolescncia e o seu contato com a filosofia afastou-o da carreira teolgica. Iniciou seus estudos no semestre de inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em filologia clssica e teologia evanglica. Em Bonn, participou da Burschenschaft Frankonia, que acabou abandonando em razo de sua participao nesta organizao atrapalhar seus estudos. Transferiu-se, depois, para a Universidade de Leipzig: isso se deveu, acima de tudo, transferncia do professor Friedrich Wilhelm Ritschl (figura paterna para Nietzsche) para essa Universidade. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer ("O Mundo como Vontade e Representao", 1820) veio a constituir as premissas da sua vocao filosfica. Aluno brilhante, dotado de slida formao clssica, Nietzsche foi nomeado, aos 24 anos, professor de filologia na universidade de Basileia. Adotou, ento, a nacionalidade sua. Desenvolveu, durante dez anos, a sua acuidade filosfica no contacto com o pensamento grego antigo, com predileo para os Pr-socrticos, em especial para Herclito e Empdocles. Durante os seus anos de ensino, tornou-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, comprometeu-se como voluntrio (mdico[10] ) na Guerra franco-prussiana. A experincia da violncia e o sofrimento chocaram-no profundamente.

Com a presso de ser jovem e ter que manter sua colocao como professor universitrio, em 1872 Nietzsche publica O Nascimento da Tragdia. O livro recebido com crticas mordazes de Ulrich von Wilamowitz-Mllendorff, fillogo de renome da poca. Segundo o acadmico, Nietzsche era a desgraa deSchulpforta, sendo Schulpforta uma escola preparatria de renome em que Nietzsche e ele prprio estudaram[11] .

Em 1879, seu estado de sade obrigou-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudvel, afastava os alunos. Comeou, ento, uma vida errante em busca de um clima favorvel tanto para sua sade como para seu pensamento (Veneza, Gnova, Turim, Nice, Sils-Maria: "No somos como aqueles que chegam a formar pensamentos seno no meio dos livros - o nosso hbito pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, danando (... )." Em 1882, encontrou Paul Re e Lou Andreas-Salom, a quem pediu em casamento. Ela recusou, aps ter-lhe feito esperar sentimentos recprocos. No mesmo ano, comeou a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche no cessou de escrever com um ritmo crescente. Este perodo terminou brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando at a sua morte, colocou-o sob a tutela da sua me e sua irm. No incio desta loucura, Nietzsche encarnou alternativamente as figuras de Dionsio e Cristo, expressas em bizarras cartas, afundando, depois, em um silncio quase completo at a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sfilis. Estudos recentes se inclinam antes para um cancro no crebro que, eventualmente, pode ter tido origem sifiltica. Aps sua morte, sua irm, Elisabeth Frster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filsofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de maro de 1887, efetuaram uma coletnea de fragmentos pstumos para compor a obra conhecida como "Vontade de Poder"[12] . Essa obra foi, amide, acusada de ser uma "deturpao nazista"; tal afirmao mostrou-se inverdica, frente s comparaes com a edio crtica alem, como denotaram os tradutores da nova traduo para o portugus[13] , e especialmente o filsofo Gilvan Fogel, que afirmou que " preciso que se enfatize: os textos so autnticos. Todos so da cunhagem, da lavra de Nietzsche. No foram, como j se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores".[14] .

Durante toda a vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando concluso de que nascera pstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarqus leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, ento, tratou de difundi-la, em 1888.

Muitos estudiosos da poca tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua prpria maneira de minimizar os efeitos da sua doena).

Em 3 de janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um colapso mental. Nietzsche teria testemunhado o aoitamento de um cavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto, e ento correu em direo ao cavalo, jogou os braos ao redor de seu pescoo para proteg-lo e em seguida, caiu no cho.[16]

Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escritos breves conhecidos como Wahnbriefe ("Cartas da loucura") para um nmero de amigos como Cosima Wagner e Jacob Burckhardt. Muitas delas assinadas "Dionsio".[17]

Embora a maioria dos comentaristas considerem seu colapso como alheios sua filosofia, Georges Bataille chegou a insinuar que sua filosofia pudesse t-lo enlouquecido ("'Homem encarnado' tambm deve enlouquecer")[18] e a psicanlise postmortem de Ren Girard postula uma rivalidade de adorao com o Richard Wagner.[19]

A cultura ocidental e suas religies, assim como a moral judaico-crist, foram temas comuns em suas obras. Nietzsche se apresenta como alvo de muitas crticas na histria da filosofia moderna, isto porque, primariamente, h certas dificuldades de entendimento na forma de apresentao das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confuses devido principalmente aos paradoxos dos conceitos de realidade ou verdade.

Nietzsche, sem dvida, considera o cristianismo e o budismo como "as duas religies da decadncia", embora ele afirme haver uma grande diferena nessas duas concepes. O budismo, para Nietzsche, " cem vezes mais realista que o cristianismo". Religies que aspiram ao nada, cujos valores dissolveram a mesquinhez histrica. No obstante, tambm se autointitula ateu:

"Para mim o atesmo no nem uma consequncia, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto" (Ecce Homo, pt.II, af.1)

A crtica que Nietzsche faz do idealismo metafsico focaliza as categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma outra abordagem: a genealogia dos valores.

Friedrich Nietzsche pretendeu ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e iluses do gnero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trs de valores universalmente aceitos, por trs das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trs dos ideais que serviram de base para a civilizao e nortearam o rumo dos acontecimentos histricos. E, assim, a moral tradicional (e, principalmente, a esboada por Kant), a religio e a poltica no so, para ele, nada mais que mscaras que escondem uma realidade inquietante e ameaadora, cuja viso difcil de suportar. A moral, seja ela kantiana ou hegeliana, e at a catharsis aristotlica, so caminhos mais fceis de serem trilhados para se subtrair plena viso autntica da vida.

Nietzsche criticou essa moral que leva revolta dos indivduos inferiores, das classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrtica que, por um lado, pela adoo dessa mesma moral, sofre de m conscincia e cria a iluso de que mandar por si mesmo adotar essa moral.

A vida s se pode conservar e manter-se atravs de imbricaes incessantes entre os seres vivos, atravs da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e, por vezes, j se consideram como tais. Neste sentido, a vida vontade de poder ou de domnio ou de potncia. Vontade essa que no conhece pausas e, por isso, est sempre criando novas mscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida tudo e tudo se esvai diante da vida humana. Porm as mscaras, segundo ele, tornam a vida mais suportvel, ao mesmo tempo em que a deformam, mortificando-a base de cicuta e, finalmente, ameaando destru-la.

No existe vida mdia, segundo Nietzsche, entre aceitao da vida e renncia. Para salv-la, mister arrancar-lhe as mscaras e reconhec-la tal como : no para sofr-la ou aceit-la com resignao, mas para restituir-lhe o seu ritmo exaltante, o seu merismtico jbilo.

O homem um filho do "hmus" e , portanto, corpo e vontade no somente de sobreviver, mas de vencer. Suas verdadeiras "virtudes" so: o orgulho, a alegria, a sade, o amor sexual, a inimizade, a venerao, os bons hbitos, a vontade inabalvel, a disciplina da intelectualidade superior, a vontade de poder. Mas essas virtudes so privilgios de poucos, e para esses poucos que a vida feita. De fato, Nietzsche contrrio a qualquer tipo de igualitarismo e, principalmente, ao disfarado legalismo kantiano, que atenta para o bom senso atravs de uma lei inflexvel, ou seja, o imperativo categrico: "Proceda em todas as suas aes de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal".

Essas crticas se deveram hostilidade de Nietzsche em face do racionalismo, que logo refutou como pura irracionalidade. Para ele, Kant nada mais do que um fantico da moral, uma tarntula catastrfica.

Para Nietzsche, o homem individualidade irredutvel, qual os limites e imposies de uma razo que tolhe a vida permanecem estranhos a ela mesma, semelhana de mscaras de que pode e deve libertar-se. Em Nietzsche, diferentemente de Kant, o mundo no tem ordem, estrutura, forma e inteligncia. Nele, as coisas "danam nos ps do acaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitvel tudo aquilo que h de problemtico e terrvel na vida.

Mesmo assim, apesar de todas as diferenas e oposies, deve-se reconhecer uma matriz comum entre Kant e Nietzsche, como que um substrato tcito mas atuante. Essa matriz comum a alma do romantismo do sculo XIX com sua nsia de infinito, com sua revolta contra os limites e condicionamentos do homem. semelhana de Plato, Nietzsche queria que o governo da humanidade fosse confiado aos filsofos, mas no a filsofos como Plato ou Kant, que ele considerava simples "operrios da filosofia".

Na obra nietzschiana, a proclamao de uma nova moral contrape-se radicalmente ao anncio utpico de uma nova humanidade, livre pelo imperativo categrico, como esperanosamente acreditava Kant. Para Nietzsche, a liberdade no mais que a aceitao consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vnculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e estar apto para se exprimir a vida, em todos os seus atos - era este no apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.

Aqui, necessrio se faz perceber que, ao que superficialmente se parece, Nietzsche cria e cai em seu prprio "Imperativo Categrico": por certo, imperativo este baseado na completa liberdade do ser e ausncia de normas. Porm, a liberdade de Nietzsche est entre a aceitao consciente (livre escolha) de um objetivo moral superior (que transcende a racionalidade do ser humano) e a matria, a razo material kantiana. Portanto, a realidade est na escolha consciente entre a moral superior (instinto, vontade do corao) e a moral racional (somatrio de valores criados pelo homem). O que reside no nas palavras mas nos sentimentos (amor, msica etc.).

Para Kant, a razo que se movimenta no seu mbito, nos seus limites, faz o homem compreender-se a si mesmo e o dispe para a libertao. Mas, segundo Nietzsche, trata-se de uma libertao escravizada pela razo, que s faz apertar-lhe os grilhes, enclaustrando a vida humana digna e livre.

Em Nietzsche, encontra-se uma filosofia antiteortica procura de um novo filosofar de carter libertrio, superando as formas limitadoras da tradio que s galgou uma "liberdade humana" baseada no ressentimento e na culpa. Portanto, toda a teleologia de Kant de nada serve a Nietzsche: a ideia do sujeito racional, condicionado e limitado rejeitada violentamente em favor de uma viso filosfica muito mais complexa do homem e da moral.

Nietzsche acreditava que a base racional da moral era uma iluso e por isso, descartou a noo de homem racional, impregnada pela utpica promessa - mais uma mscara que a razo no autntica imps vida humana. O mundo, para Nietzsche, no ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princpio filosfico no era, portanto, Deus e razo, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e, por isso, se est dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A nica e verdadeira realidade sem mscaras, para Nietzsche, a vida humana tomada e corroborada pela vivncia do instante.

Nietzsche era um crtico das "ideias modernas", da vida e da cultura moderna, do neonacionalismo alemo. Para ele, os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipao feminina no eram seno expresses da decadncia do "tipo homem". Por estas razes, , por vezes, apontado como um precursor da ps-modernidade.

A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, tendo sua irm, simpatizante do regime hitleriano, fomentado esta associao. Como dizia Heidegger, ele prprio nietzschiano, "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche".

Todavia, Nietzsche era explicitamente contra o movimento antissemita, posteriormente promovido por Adolf Hitler e seus partidrios. A este respeito, pode-se ler a posio do filsofo:

Antes direi no ouvido dos psiclogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto o ressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplndido entre os anarquistas e antissemitas, alis onde sempre floresceu, na sombra, como a violeta, embora com outro cheiro.[20]

...tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os antissemitas, que hoje reviram os olhos de modo cristo-ariano-homem-de-bem, e, atravs do abuso exasperante do mais barato meio de agitao, a afetao moral, buscam incitar o gado de chifres que h no povo... [20]

Sem dvida, a obra de Nietzsche sobreviveu muito alm da apropriao feita pelo regime nazista. Ainda hoje, um dos filsofos mais estudados e fecundos. Por vrios momentos, inclusive, Nietzsche tentou juntar seus amigos e pensadores para que um fosse professor do outro, numa espcie de confraria. Contudo, esta ideia fracassou, e Nietzsche continuou sozinho seus estudos e desenvolvimento de ideias, ajudado apenas por poucos amigos que liam em voz alta seus textos, que, nos momentos de crise profunda, ele no conseguia ler.

Seu estilo aforismtico, escrito em trechos concisos, muitas vezes de uma s pgina, e dos quais so pinadas mximas. Muitas de suas frases se tornaram famosas, sendo repetidas nos mais diversos contextos, gerando muitas distores e confuses. Algumas delas:

Longe de ser um escritor de simples aforismas, ele considerado pelos seus seguidores um grande estilista da lngua alem, como o provaria Assim Falou Zaratustra, livro que ainda hoje de dificlima compreenso estilstica e conceitual. Muito pode ser compreendido na obra de Nietzsche como exerccio de pesquisa filolgica, no qual se unem palavras que no poderiam estar prximas ("Nascer pstumo"; "Deus Morreu", "delicadamente mal-educado", etc ).

Adorava a Frana e a Itlia, porque acreditava que eram terras de homens com espritos-livres. Admirava Voltaire, e considerava como ltimo grande alemo Goethe, humanista como Voltaire. Naqueles pases passou boa parte de sua vida e ali produziu seus mais memorveis livros. Detestava a prepotncia e o anti-semitismo prussianos, chegando a romper com a irm e com Richard Wagner, por ver neles a personificao do que combatia - o rigor germnico, o anti-semitismo, o imperativo categrico, o esprito aprisionado, antpoda de seu esprito-livre. Anteviu o seu pas em caminhos perigosos, o que de fato se confirmou catorze anos aps sua morte, com a primeira grande guerra e a gestao do Nazismo.

A questo colocada por Nietzsche em 1874 explicitamente a do valor da histria e s pode ser colocada porque reporta a histria a uma instncia exterior, a vida, qualificada ento como no histrica. Em 1878, Nietzsche inverte sua interrogao e preconiza uma "filosofia histrica" que identifica vida e histria, abrindo assim a possibilidade de uma histria dos valores. O problema consiste agora em saber como concretizar esta ltima. Nietzsche recorre ento ao esquema utilitarista, com o qual comea uma longa discusso, como testemunha muito bem, em 1882, A gaia cincia. Em 1887, o prprio conceito de "genealogia" empregado para significar uma nova historicidade, cuja possibilidade mesma depende da liquidao prvia desse modelo, de modo que a crtica a Paul Re deve ser compreendida tambm como uma autocrtica. [21]

Contudo, no prprio legado do filsofo podemos inferir suas opinies em relao a outras filosofias e posies. sumamente importante notar que Nietzsche perdeu o pai muito cedo, seus primeiros livros publicados at 1878, que no expunham suas ideias mais cidas, ainda assim fizeram pouco ou nenhum sucesso. Que ele ficou extremamente desapontado com o sucesso de Richard Wagner, o qual se aproximou do cristianismo. Teve uma vida errante, com poucos amigos, e sempre perseguido por surtos de doena.

Nas suas obras vemos crticas bastante negativas a Kant, Wagner, Scrates, Plato, Aristteles, Xenofonte, Martinho Lutero, metafsica, ao utilitarismo, anti-semitismo, socialismo, anarquismo, fatalismo, teologia, cristianismo, concepo de Deus, ao pessimismo, estoicismo, ao iluminismo e democracia.

Dentre os poucos elogios deferidos por Nietzsche, coletamos citaes, muitas vezes com ressalvas a Schopenhauer, Spinoza, Dostoivski, Shakespeare, Dante, Napoleo, Goethe, Darwin, Leibniz, Pascal, Edgar Allan Poe, Lord Byron, Musset, Leopardi, Kleist, Gogol, Voltaire e ao prprio Wagner, grande amigo e confidente de Nietzsche at certo momento.

Ele era, sem dvida, muito apreciador da Natureza, dos pr-socrticos e das culturas helnicas.

O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difcil e contraditria compreenso. Assim, h os que, ainda hoje, associam suas ideias ao niilismo, defendendo que para Nietzsche:

"A moral no tem importncia e os valores morais no tm qualquer validade, s so teis ou inteis consoante a situao"; "A verdade no tem importncia; verdades indubitveis, objectivas e eternas no so reconhecveis. A verdade sempre subjectiva"; "Deus est morto: no existe qualquer instncia superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo"; "O eterno retorno do mesmo: A histria no finalista, no h progresso nem objectivo". Ou ainda "...se existem deuses, como poderia eu suportar no ser um deus!? Por conseguinte no h deus." passagem que deixa evidente que a concluso no decorre da premissa, mas sim da pessoal inaceitao do autor a um ente superior ao que ele prprio poderia conceber, ou seja: que, no mnimo, o autor o ser de maior capacidade intelectiva que existe - isto portanto no o caracteriza como niilista. A superao do homem do seu tempo o eixo de sua filosofia.

Outros, entretanto, no pensam que Nietzsche seja um autor do niilismo, mas ao contrrio um crtico do niilismo. Na genealogia da moral o filsofo faz crticas abertas ao niilismo, que para ele seria uma "anseio do vazio", uma manifestao dos seres doentes aonde se conformam e idealizam o vazio e no um verdadeiro estado de fora. Alm disso, para ele o homem pode ser, alm de um destruidor, um criador de valores. E os valores a serem destrudos, como os cristos (na sua obra, faz meno doena, ignorncia), um dia seriam substitudos pela sade, a inteligncia, entre outros. Tal afirmao se baseia na obra Assim falou Zaratustra, onde se faz clara a vinda do Alm-homem, sendo criar a finalidade do ser. Tal correspondncia totalmente contrria ao niilismo, pelo menos em princpio. Ou um "niilismo positivo", para Heidegger.Todavia, Nietzsche, contrrio ou no, no deixando escapar de suas crticas nem mesmo seu mestre Schopenhauer nem seu grande amigo Wagner, procurou denunciar todas as formas de renncia da existncia e da vontade. esta a concepo fundamental de sua obra Zaratustra, "a eterna, suprema afirmao e confirmao da vida". O eterno retorno significa o trgico-dionisaco dizer sim vida, em sua plenitude e globalidade. a afirmao incondicional da existncia.

Talvez a falta de consenso na apreciao da obra de Nietzsche tenha em parte a ver com os paradoxos no pensamento do prprio autor. As suas ltimas obras, sobretudo o seu autobiogrfico Ecce Homo (1888), foram escritas em meio sua crise que se aprofundava. Em Janeiro de 1889, Nietzsche sofreu em Turim um colapso nervoso. Nietzsche passou os ltimos 11 anos da sua vida sob observao psiquitrica, inicialmente num manicmio em Jena, depois em casa de sua me em Naumburg e finalmente na casa chamada Villa Silberblick em Weimar, onde, aps a morte de sua me, foi cuidado por sua irm.

Faleceu em 25 de agosto de 1900. Encontra-se sepultado em Rcken Churchyard, Rcken, Saxnia-Anhalt na Alemanha.[22]

Obras de Friedrich Nietzsche, na ordem em que foram compostas:

Escreveu ainda uma recolha de poemas, publicados postumamente, com o nome de Ditirambos de Dionsio.

Nietzsche deixou muitos cadernos manuscritos, alm de correspondncias. O volume desses textos maior do que o dos publicados. Os de 1870 desenvolvem muitos temas de seus livros publicados, em especial uma teoria do conhecimento. Os de 1880 que, aps seu colapso nervoso, foram selecionados pela sua irm, que os publicou com o ttulo "A vontade de poder", desenvolvem consideraes mais ontolgicas a respeito das doutrinas de vontade de poder e de eterno retorno e sua capacidade de interpretar a realidade. Entre essas especulaes e sob os esforos de intrpretes de sua obra, os manuscritos de 1880 estabelecem repetidamente que "no h fatos, somente interpretaes".

Contudo, est disponvel a obra Fragmentos Finais, que baseada na reestruturao feita aos seus manuscritos no Arquivo.

No Brasil, alguns trechos desses fragmentos pstumos podem ser encontrados no livro Nietzsche da coleo Os Pensadores, publicada pela editora Abril Cultural.

As composies de Friedrich Nietzsche no so to conhecidas como seus escritos filosficos ou seus poemas, mas o prprio Nietzsche, como um artista, pensou a msica como seu principal meio de expresso.

Antes de se estabelecer plenamente como um filsofo, ele j havia criado uma miscelnea significativa de produes como poeta e compositor. A poesia permaneceu essencial para seus escritos filosficos, e a composio musical tornou-se menos importante para ele na medida em que seu envolvimento com a palavra escrita foi adquirindo "nome prprio". Como conseqncia, as suas obras musicais so geralmente consideradas de pouca importncia para a compreenso do seu pensamento filosfico.

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